sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

(4)-CHOQUES INTERPLANETÁRIOS

Na fase em que a nebulosa que viria a se tornar o Sol, obedecendo as leis celestes, girava vertiginosamente sobre seu próprio eixo, a força centrifuga produzida por este movimento, na medida em que lhe formava o núcleo, expulsava as partes que o efeito de constrição ainda não podia reter, impondo a todas elas a direção que foi assumida até que seu percurso, alimentado pela inércia, foi interrompido pelos fluxos e influxos das marés cósmicas.
Estes excessos, que por sua vez tornar-se-iam os planetas e satélites do sistema solar, enquanto no mesmo estado, plagiando a nebulosa mãe, até encontrar seu proprio equilíbrio núcleo-massa, seguiram espargindo suas porções, porções estas que ao se solidificarem se transformaram em cometas, meteoritos e pó cósmico. Planetas como Saturno fizeram deles seus anéis.
Estes corpos permaneceram desde então vagando no espaço obedecendo a suas órbitas até que, entre uma evolução e outra, obedecendo as mesmas leis cósmicas segundo as quais os corpos físicos se atraem mutuamente na razão direta do volume da sua massa, alguns são atraídos para rotas de colisão, novos traçados que seguem até se chocar com a massa que os atraí. Estes processos que em escala menor permanecem ativos até hoje, durante os primeiros milhões de anos, enquanto o recém nascido sistema solar se adequava à disciplina que coordena o cosmo, aconteciam quase que ininterruptamente. Mas na medida em que a ordem cósmica encontrou o seu equilíbrio, a freqüência começou a diminuir até se tornar episódica, ou seja, rareando progressivamente até praticamente desaparecer.
Todos os planetas do sistema solar - e dos milhares de outros sistemas solares que existem no Universo - sem exceção, possuem em sua superfície gigantescas crateras provocadas por estes impactos. No nosso planeta, mesmo nos últimos milênios, foram incontáveis os choques que ocorreram. Destes, felizmente, foram poucos os que causaram grandes catástrofes.
Estes eventos, que eclodiram em localidades e em épocas diferentes, se transformaram nas pitorescas lendas que acabamos de ler. Pitorescas à luz do XXI século, mas certamente uma descrição objetiva naquelas épocas remotas.
Estas ocorrências, através do trabalho de evangelização assumido pelos jesuítas ao redor do mundo, devido à interpretação afoita dos testos do velho testamento, foram unificados em um só: o dilúvio universal.

Entre os mistérios que continuam fascinando o homem existe o que está ligado ao desaparecimento dos dinossauros. Estes animais, que viveram 65 milhões de anos atrás, participaram do grupo de seres que inicialmente habitaram o orbe terrestre desaparecendo depois, de uma vez, após ter dominado por milhares de anos o planeta. Provas irrefutáveis a respeito da extinção desta espécie ainda não existem, mas os estudiosos da matéria estão praticamente todos de acordo e sustentam a hipótese de que a causa foi uma catástrofe planetária que desestruturou todo o ecossistema do planeta.
As pesquisas prosseguem no sentido de comprovar se o evento foi causado por circunstancias terrestres ou externas provenientes do espaço. O que é tido como certo, devido aos dados já recolhidos e analisados, é que a catástrofe apocalíptica foi de breve duração uma vez que os restos destes animais gigantescos são encontrados em grandes grupos, nos mesmos lugares, como se de fato, pressentindo o perigo, tivessem se reunido para enfrentá-lo.
Retornando às causas, estas continuam sendo procuradas seja no planeta como no espaço exterior. Na primeira hipótese poder-se-ia falar de uma mudança da inclinação do eixo terrestre com a conseqüente alteração ambiental e climática, sem falar do provável incremento da atividade vulcânica ao redor do globo e por redundância de uma imensa produção de gases e fumaça que, pelo efeito estufa provocado, poderiam ter impedido o normal processo de vida.
Estes, porém, são eventos que teriam necessitado de muito tempo para provocar a mortandade globalizada que efetivamente foi gerada. Assim a hipótese mais provável é que a causa teve origem no espaço ao redor do planeta.
Em verdade a terra, como todos os demais planetas, foi no passado, continua sendo hoje e sempre será, um possível alvo de meteoritos, asteróides, cometas e radiações cósmicas de particular intensidade. No passado, quando o sistema solar se encontrava em fase de assentamento, isso acontecia com freqüência e as provas são as crateras que cobrem a superfície de Mercúrio, da Lua, e de outros corpos planetários inclusive a própria terra.
Se refletirmos a respeito do cometa Shoemaker-Levy 9 que recentemente se desintegrou sobre Júpiter, deduziremos com facilidade que se isso tivesse acontecido sobre a terra às conseqüências, em relação à continuidade da vida humana no planeta, seriam indetermináveis.
Portanto é muito provável que na época dos dinossauros tenha acontecido alguma coisa semelhante, mesmo porque, analisando as estratificações do terreno e os anéis dos troncos das arvores, os estudiosos encontraram em diversas regiões do mundo áreas particularmente ricas de Irídio.
A pluralidade destes achados e o fato que este elemento é naturalmente raro na terra enquanto é abundante em outros planetas, é mais uma prova que aumenta as probabilidades que tenha de fato acontecido isso.
O choque teria sido responsável por mutações irreversíveis desde a elevação da temperatura pelo efeito estufa a partir dos bilhões de partículas de pó que se elevaram à atmosfera em função do choque, até a mudança dos parâmetros orbitais do planeta com sucessivas alterações climáticas passando por tudo o que já foi descrito. Existe outra possibilidade ainda, uma supernova que, explodindo no espaço do sistema solar, tenha irradiado por séculos para o nosso planeta radiações cósmicas maléficas cuja força venceu as proteções naturais fornecidas pela atmosfera. Independentemente de tudo isso, porém, os únicos indícios de relevância cientifica são representados pelo improviso aumento do índice de Irídio existente na terra e os restos de uma cratera localizada na península de Yucatan, no México.
Nos Andes foram achados traços de sedimentos marinhos a 3.800 metros de altitude e algumas ruínas de Tiahuanaco estão soterradas sob dois metros de lama desconhecida.
A dezoito metros da superfície do lago de Titicaca foram encontradas ruínas de construções erguidas pelo homem, e em suas águas restos de crustáceos e peixes marinhos. Tudo isso indica que a Terra foi atingida por um corpo vindo do espaço.
Fonte: www. Astrosurf. com/cosmoweb/catagmes.html

A cratera da península de Yucatan, no México, provocada pelo impacto de um meteorito 65 milhões de anos atrás, cuja explosão, além de criar uma depressão com um diâmetro entre 180 a 300 Km, teria criado as convulsões que causaram o extermínio dos dinossauros.

De tempos em tempos a Internet é varrida por uma onda de rumores – desmentidos – sobre algum corpo celeste desgarrado que estaria em rota de colisão com a Terra. Quase sempre o pivô da boataria é um objeto inócuo – como o asteróide Toutatis que deve chegar ás vizinhanças do planeta no fim de setembro e gerou alarde alguns meses atrás.
Apesar de muito grande, com 4.5 Km.de comprimento e 2.5 de largura, o Toutatis passa inofensivamente pela órbita da Terra a cada quatro anos. Seu plano de vôo não inclui nenhum pouso sobre a superfície terrestre nem agora nem para os próximos 600 anos pelo menos.
Assim como ele, não se conhece – ainda – nenhum outro corpo que possa se chocar com o planeta. O que não significa que não aja motivo para o nosso medo ancestral das tempestades celestiais de pedra e fogo.
Não só o sistema solar está repleto de cometas e asteróides, como seu numero parece aumentar a cada vez que se olha para o céu. Não é que eles estejam se multiplicando, claro: é que, quanto mais se refinam os instrumentos de observação, mais deles se vêem.
Cometas e asteróides são restos da formação dos planetas. Boa parte deles se mantém estável em algumas ilhas bem delimitadas como o Cinturão Principal entre Marte e Júpiter, o Cinturão de Kuiper que fica além de Netuno, e a nuvem de Ort, um aglomerado de lascas geladas que envolvem todo o sistema solar como uma casca de ovo.
De vez em quando, atraídos pela gravidade dos grandes planetas, alguns desses corpos escapam, mergulham em direção ao Sol e passam muito perto da Terra. São os chamados NEOs - sigla para objetos próximos da Terá, em Inglês. Os NEOS tem vocação para a destruição. Caso algum despenque por aqui, os estragos podem ser irremediáveis.
Acredita-se que tenha sido um desses assassinos voadores que eliminou os dinossauros, há 65 milhões de anos.
Em 1908 outro asteróide desgarrado irrompeu sobre a região de Tunguska, na Sibéria. Nem chegou a tocar no solo, mas sua explosão em pleno ar destroçou 2000 Km. quadrados de bosques. Por fim, as crateras que marcam a superfície terrestre deixam claro que esses foram apenas dois dentre milhares de bombardeios sofridos pelo planeta.
Todos os dias milhares de pedregulhos invadem a atmosfera terrestre. Calcula-se que o planeta receba, a cada dia, algo entre 1.000 e 10.000 toneladas de matéria vinda do espaço. A sorte é que a maioria desses invasores é muito pequena e se desintegra ao cruzar o escudo de ar que nos protege. No máximo proporcionam o poético espetáculo de uma estrela cadente. Mas, de tempos em tempos, algum corpo maior prega um susto. E não precisa nem mesmo entrar na atmosfera.
Em março deste ano um asteróide de 35 m. de diâmetro passou a meros 43.000 Km., de nos – um décimo da distancia entre a Terra e a Lua. Em termos astronômicos é uma fina, e o mais perto que um objeto alienígena chegou de nos sem nos atingir. E tem mais por ai.
O Minor Planet Center, órgão da União Astronômica Internacional – IAU - que centraliza as informações sobre cada novo corpo suspeito, tem registrado algo em torno de 3.000 NEOs, 700 dos quais com mais de 1 Km. de diâmetro. Ainda assim, o sistema solar vive um período de extrema calmaria se comparado ao campo de batalha no qual os planetas se formaram há mais de quatro bilhões de anos.
Àquela época as rochas e nuvens de poeira se chocavam no espaço e, atraídas pela força gravitacional, rodopiavam em torno do Sol agregando-se no que hoje chamamos de Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, e daí por diante.
Se hoje o céu segue o compasso de uma marcha o ritmo dominante naquele passado remoto era uma mistura de heavy metal com batuque do Olodum.
A responsável por este surto de sobressaltos cósmicos é a tecnologia. Desde que se começou a caçar os NEOs, o método de identificação continua basicamente o mesmo: fazem-se varias imagens de uma região do céu com intervalos de minutos e comparam-se as fotos em busca de pontos que se movam contra o fundo de planetas e estrelas - que parecem estacionados. A diferença é que, até a alguns anos, essas imagens eram registradas em fotografia tradicional e analisadas sob um microscópio. Hoje as fotos são digitais e estudadas por softwares que identificam variações de movimento, velocidade e brilho. Assim, a localização de asteróides deixou de ser uma brincadeira de esconde-esconde no escuro. E meia dúzia de programas oficiais de busca – como os americanos Neat e Linear – engorda o censo cósmico de NEOS muito velozmente. Apenas o Linear já identificou 1508 objetos próximos da Terra.
Foi graças aos avanços tecnológicos, também, que esses dois programas encontraram os mais recentes cometas batizados de Neat e Linear, as duas bolas brilhantes foram vistas por poucos no Brasil, em maio, como dois frustrantes chumacinhos de algodão.
A Internet também acelera a produtividade na caça por NEOS. Um pelotão de astrônomos – na maioria amadores – se incumbe de acompanhar cada suspeito medindo seu avanço ao longo do tempo e ajudando a traçar a seu percurso e o eventual risco de um impacto com a Terra. As informações são trocadas on-line.

No hemisfério sul, onde existem poucos observadores, o Brasil tem posição de destaque nessa tarefa. Os programas de patrulhamento desenvolvidos pelos astrônomos amadores Paulo Holvorcem, de Campinas, e Cristóvão Jaques, de B. Horizonte, por exemplo, já receberam dois prêmios em dinheiro para continuar seu bem-sucedido trabalho. O financiamento veio da Sociedade Planetária - uma associação fundada pelo astrônomo americano Carl Sagan para incentivar pesquisas sobre o sistema solar.
Os cálculos demonstram que cataclismos como o que eliminou os dinossauros acontecem a cada 100 milhões de anos mas ainda assim os brasileiros consideram a rastreamento uma questão de prudência. “quanto antes descobrirmos um asteróide que esteja vindo para cá, mais tempo teremos para achar um meio de desviá-lo ou destruí-lo” diz Jaques”.
A verdade é que as tecnologias de destruição de corpos invasores, apresentadas em filmes como “Impacto Profundo e Armageddon”, não passam, por ora, de ficção. E por mais preocupante que seja a noticia o pior pode mesmo acontecer.
O americano Timothy Spahr, do Minor Planet Center, em Massachusetts, já sentiu esse pavor. Em 1966, quando ainda era estudante, Spahr e um colega notaram pelo telescópio uma mancha que dobrava de tamanho a cada 48 hora – ou seja, parecia avançar em direção a Terra numa velocidade estonteante. Quatro dias depois um asteróide com diâmetro equivalente à altura de um prédio de 180 andares passou a apenas 450.000 Km. - pouco mais que a distancia até a Lua. “Se o objeto estivesse vindo contra nos não teríamos tempo de fazer absolutamente nada” disse ele a VEJA. O tempo, aliás, é o pior inimigo dos programas de busca. “Estamos ainda longe de cumprir a meta de mapear, até 2008, 90% dos NEOs com diâmetro maior de 1Km”. afirma Spahr. Observar e calcular é tudo que se pode fazer por ora na esperança de prevenir uma hecatombe. E ainda assim as certezas são relativas.
“O cosmo não é uma mesa de bilhar em que os asteróides e os planetas se chocam como bolas num percurso direto e bem definido”, diz o astrônomo Enos Picazzio, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciência Atmosférica da Universidade de São Paulo. “O sistema solar é parecido com um móbile em que a atração gravitacional entre o Sol e os planetas mexe com todo o conjunto e, a qualquer momento, pode lançar um objeto aparentemente estável em direção á Terra”.
Fonte: revista VEJA: Edição 1857, No. 23. de 9/6/2004.

1 2

1: visualização do volume de asteróides ao redor do Planeta Terra (NASA)
2: NEO (asteróide) com cerca de 1.5 quilômetros (NASA)


1 2

3 4
5

1:Cratera causada por um meteorito entre 20 a 50 milhões de anos atrás na Arizona, EUA.
2:Cratera causada por um meteorito entre 206 a 214 milhões de anos atrás no Canadá.
3:Cratera causada por um meteorito 5 milhões de anos atrás em Namíbia, África.
4:Meteorito de 452,6 gramas.
5:Mapa dos impactos dos maiores meteoritos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário