sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

(7)-ESPOLIO DOS DEGREDADOS DE CAPELA

Vencidos os primeiros milênios, no seio dos povos despertou um sentimento de religiosidade, e este foi a porta através da qual adentraram os deuses. No inicio eram os seres imaginários das florestas, dos ventos, das águas e dos céus, porque acreditavam que seus poderes lhes permitiam fazer chover, cair os raios, aparecer o sol e todos os demais fenômenos. Mais tarde foi a vez dos astros serem endeusados, e entre estes o sol. Deuses também foram considerados, pelos conhecimentos que possuíam, os sobreviventes das catástrofes que destruíram as primeiras civilizações.
O escritor grego Evemero, no fim do III século a.C. afirmava, baseado em suas próprias observações, que os personagens mitológicos - os deuses - eram seres humanos que haviam sido divinizados pelo medo ou pela admiração dos povos, e exemplificava isso indicando a “auréola divina” que foi atribuída a Fo-Hi, Confúcio, Buda, Ho-shí, Moises, Zaratustra, Jesus e Maomé.
Os deuses, como a cidade de Tróia, foram muito mais do que lendas, lendas que na mesma proporção em que foram aceitas se fortaleceram, e ao se fortalecerem, transformaram-se em crenças, em doutrinas e religiões, das quais muitas delas até hoje mantem a arcaica crença que tudo o que acontece é sempre provocado pela mão de Deus. Mas, de que outra forma as singelas mensagens do infinito poderiam ser ouvidas, interpretadas e desenvolvidas, se não através da sensibilidade e por meio desta, da intuição? De que outra maneira as missivas divinas poderiam fazer eclodir na mente humana o entendimento apropriado a induzi-la, com a colaboração do tempo, a seguir a vereda cujo destino é a luz?
Hoje, milhares de anos depois, mesmo se muitas obras do passado ainda não foram interpretadas, o homem não se desvio da rota que lhe foi imposta. Continua percorrendo-a mesmo a passadas lentas. É por este motivo, entre muitos outro, que ao nível de suas instituições religiosas ou cientificas, lhe falta à humildade que é o instrumento que lhe permitiria sorver a “sabedoria” que o passado lhe deixou como legado, sabedoria que foi legada ao porvir por aqueles seres que aqui foram trazidos pela mão divina: As pirâmides, as tabuas da mesopotâmia, os monumentos megalíticos e todas as demais obras que para serem executadas, exigiram conhecimentos científicos que ainda não haviam florescido na face deste planeta. Será que é exeqüível quantificar o que efetivamente a humanidade está perdendo somente porque quem participa das ciências e das religiões se julgam mais sábios do que todos os demais?
A titulo de exemplo, quem não lembra da mítica cidade de Tróia, do cavalo de madeira deixado pelos gregos que Homero chama “aqueus”, do rei Priamo, Helena - a esposa que o amor de Paris roubou de Menelau, sem esquecer de Heitor e Aquiles? Tróia era considerada pela ciência, em outras palavras, por arqueólogos, pesquisadores e historiadores, tão somente um mito. Uma lenda inventada pelo lirismo de Homero. Por esse motivo a mitológica Tróia era objeto de dialogo somente entre os estudiosos de literatura.
Na segunda metade do século 19, no entanto, um alemão verdadeiramente apaixonado pelas ciências, acreditou que os ditos de Homero poderiam conter uma verdade, um fato histórico sobre o qual havia se erguido uma lenda. Chamava-se Heinrich Schliemann -1822-1890. Fanático por Homero e arqueólogo autodidata, buscou na Ilíada e em outros textos históricos como os de Alexandre Magno, o rei da Macedônia que no IV século a.C. visitara as ruínas de Tróia em busca de inspiração, as pistas que desejava. Seguindo-as, em 1871 descobriu uma pequena elevação chamada Hisarlik - forte poderoso na língua Turca, não muito longe da atual cidade de Istambul. Segundo suas deduções o local mais promissor para encontrar aquilo que procurava. Assim, mesmo sendo objeto de escárnio por parte de seus colegas, cavoucou a terra até que, estarrecido, viu dela ressurgir as ruínas de Tróia. Não as de uma única cidade, mas os vestígios de outras oito que haviam sido reconstruídas sempre sobre as ruínas das anteriores.
Outro exemplo, na Grécia, foi à descoberta da civilização cretense. O arqueólogo A. Evans, no século XIX, baseando-se nos mitos de Minos, o lendário rei de Creta considerado filho dos deuses Europa e Zeus, descobriu Cnossos, capital da Creta antiga, que havia atingido seu apogeu no II milênio a.C.
Ao redor dos anos 380 a.C., Platão, em suas obras “Crizia” e “Timeo”, descreveu uma ilha fabulosa localizada no oceano Atlântico - a imensidão líquida que separou os continentes da Europa e da América quando estes se afastaram. Esta ilha, Atlântida, é citada em centenas de livros desde Diodoro Sículo a Roger Bacom, de Proclo a Donnelly, passando por Aristóteles que a chama Antilhas, para chegar a Homero que a nomeia Ogígia, além de inúmeros outros nomes lendários como Campos Elíseos pelos gregos, Campos dos Papiros pelos Egípcios, Aztlan para os Maias e Astecas e Rutas pelos Hindus.
Esta ilha é ainda lembrada por inúmeras religiões quando descrevem o paraíso perdido cujos sobreviventes, sempre imaginariamente reduzidos a um homem e uma mulher, repovoaram o mundo.
A maioria destes conhecimentos, contudo, perdeu-se, e as razões já foram abordadas. No inicio o homem só conseguia se comunicar através de gestos e sons. Foram necessários milênios para que as primeiras formas rudimentares de comunicação se desenvolvessem. Superadas as dificuldades impostas pela comunicação verbal, a inteligência humana voltou-se para consubstanciar a escrita. Aos primeiros “testos” - desenhos sobre rochas - sucederam-se às gravações em baixo relevo sobre madeira e pedra. O passo seguinte contemplou a tinta sobre superfícies lisas: cortiça de arvore, peles ressecadas de animais e muito mais tarde o papiro e o pergaminho.
Quando finalmente escrever se tornou uma atividade exeqüível, considerando que para registrar o que quer que fosse sobre uma “folha” só era necessário - alem de saber fazê-lo, claro - possuir uma “caneta”, ainda assim por centenas e centenas de anos esta pratica se manteve restrita a poucos porque, mesmo quando se ampliou o numero dos que haviam aprendido a escrever, permanecia um obstáculo: vencer o vicio que até então vigorava: não se preocupar demasiadamente com o amanhã, e desse modo, tratar as experiências vividas e transmitir estes conhecimentos exclusivamente com a voz. Por esse motivo, parte do que os mestres ensinaram, para que não fosse esquecido foi registrado por seus discípulos. Mas quando o fizeram só conseguiram historiar suas memórias. Entretanto, em decorrência das escolas de Alexandria, na Grécia, já a partir dos anos 500-400 anos a.C., escrever havia se tornado uma profissão para alguns cidadãos das civilizações mais desenvolvidas, e quando as primeiras obras literárias começaram a ser composta, perceberam que esta riqueza cultural não podia ser perdida: surgiram assim as bibliotecas.
Estas, contudo, considerando que as grandes cidades sempre haviam sido construídas em áreas costeiras ou na margem de grandes rios, não somente não escaparam das exaltações humanas - as guerras - mas também não foram poupadas pela eclosão dos fenômenos naturais: maremotos, terremotos, inundações ou o próprio submergir de áreas inteiras.
Um bom exemplo é o que aconteceu em Atenas, capital da Grécia, em conseqüência dessa cidade ter sido escolhida para sediar os jogos Olímpicos de 2004.
Transformada em um imenso canteiro de obras para abrigar o maior evento esportivo do planeta, na medida em que as escavações se realizavam, começou a ser trazido à luz um tesouro arqueológico de valor inestimável: na construção da vila Olímpica, ao norte da capital, os operários depararam com um aqueduto erguido pelo imperador romano Adriano no segundo século.
Sob o solo do centro eqüestre de Markopoulo, ao leste de Atenas, foi encontrado um templo erigido a Afrodite, a deusa do amor, há mais de 2.500 anos.
Nas obras da raia olímpica, na praia de Schinias, foram desencavados vestígios de edificações que como mínimo haviam sido construídas 2.500 anos a. C.
Ruínas de 1.500 anos surgiram durante a ampliação da estrada aonde foi disputada a primeira maratona, para permitir a realização da mesma prova no evento de 2.004. E nas obras de expansão do metro, só na perfuração de um trecho de 2.5 Km., mais de 10.000 peças de varias épocas de valores históricos indescritíveis foram resgatadas.
Estes “documentos” encontrados acidentalmente, sem equívoco, são alguns poucos grãos de areia diante da imensidão do deserto se forem comparados com o todo que deve existir no subsolo das áreas aonde, reconhecidamente ou não, no longínquo passado se fixaram os povos que originaram as grandes civilizações do passado.
Outro exemplo vem do Egito onde, em 2004, arqueólogos poloneses encontraram treze salas de leitura, cada uma com capacidade para 5000 alunos, que devem ter pertencido á universidade que existia em Alexandria entre os séculos V e VII d.C.
Outros desfalques ao tesouro do saber se sucederam no vácuo deixado pelos milênios através das guerras. Os povos vencidos, submetendo-se aos invasores, não só eram obrigados a esquecer seus credos, mas na maioria das vezes eram despidos de tudo os que lembrava à sua cultura.
Ações semelhantes eram provocadas pela eterna rivalidade entre o poder terreno e o religioso. Quantos tesouros arqueológicos, por exemplo, foram destruídos ao redor do planeta quando o jesuitismo começou a “evangelizar” na marra os povos chamados pagãos?
O estudioso americano Matthew Battles em seu livro “A conturbada Historia Das Bibliotecas” - Editora Planeta - cita que quando os Árabes conquistaram Alexandria no ano 641 d.C., a biblioteca dessa capital egípcia possuía um acervo indescritível, em outras palavras, suas estantes guardavam os textos mais antigos da humanidade. O Califa de então (titulo assumido após a morte de Maomé no ano de 632 pelos chefes políticos e religiosos muçulmanos) determinou: se o que está escrito nos papiros egípcios concorda com o que está escrito no livro do nosso deus, eles são desnecessários, e se discorda, são indesejáveis. Queimem-nos. Milhares de rolos de papiro teriam então sido queimados transformando-os em combustível para as termas publicas da cidade.
O autor traça um panorama que vai das primeiras coleções de livros de que se tem noticia que remontam à Mesopotâmia de 3.000 anos a.C., até as colossais bibliotecas como a do Congresso americano que é a maior do mundo, afirmando que a historia demonstra que as bibliotecas sempre foram para os livros os locais menos seguros.
Es seus esforços para catequizar os astecas, no México do século XVI, os padres espanhóis destruíram os equivalentes pré-colombianos das bibliotecas, ou seja, os santuários com peças de couro e argila cujas inscrições em hieróglifos continham parte da memória daquela civilização.
Quando o Rei Henrique VIII rompeu com o catolicismo no século XVI, o acervo de livros das abadias inglesas passou a ser vendido como polpa para fabricação de novos volumes. Em segredo, no entanto, um dos seus ministros salvou vários deles, e entre estes, a copia mais antiga que se conhece de uma das obras fundadoras da literatura inglesa, o poema “Beowulf”.
Adolf Hitler, o ditador nazista, instigou seus partidários a promover queimas de livros na medida em que suas tropas avançavam sobre os outros paises, retirando, porém, antes disso, as obras que interessavam ao terceiro Reich, assim como fez Mão Tzé-tung durante a sua revolução cultural.
Battles diz que em 1992 - durante a guerra civil da Bósnia - um intelectual e líder nacionalista Sérvio mandou que fosse bombardeada a principal biblioteca de Sarajevo, e em 1998 os fanáticos do Talibã explodiram uma biblioteca com mais de 50.000 volumes no norte de Afeganistão. Sabe-se também que a imensa e mais antiga biblioteca, em termos cristãos, é a do Vaticano e essa também sofreu perdas inestimáveis quando o fogo proposital destruiu grande parte do seu patrimônio.
Quando Nabucodonosor, o rei da Babilônia, promoveu a expatriação da elite judaica depois de invadir e destruir seu reino porque este deixara de lhe pagar as taxas que cobrava, sua atitude não visava somente despedaçar o orgulho hebraico, mas, destruindo sua cultura, varrê-los da face da Terra. Não o conseguiu porque 50 anos depois, Ciro, o rei da Pérsia, ao invadir a Babilônia, permitiu aos judeus recompor o que haviam perdido.
Resumindo, em vários momentos da historia o controle do saber, por conseguinte, das bibliotecas, não somente significou ter o controle de um ou mais povos, mas um método para enfraquecê-lo, escravizá-lo ou ainda dizimá-lo.
Felizmente nos últimos anos, movidos por um consenso que assume que em suas raízes históricas e culturais os mitos podem conter algumas das respostas que a ciência procura, alguns antropólogos, arqueólogos, lingüistas, historiadores etc., começaram a procurar nas paginas dos livros mais velhos do mundo eventuais testos que lhe permitam nortear suas pesquisas.

Nos círculos esotéricos, onde pontificava a palavra esclarecida dos grandes mestres de então, sabia-se da existência do Deus Único e Absoluto, Pai de todas as criaturas e Providencia de todos os seres, mas os sacerdotes conheciam, igualmente, a função dos Espíritos prepostos de Jesus, na execução de todas as leis físicas e sociais da existência planetária, em virtude das suas experiências pregressas. Desse ambiente reservado de ensinamentos ocultos, partiu, então, a idéia politeísta dos numerosos deuses, que seriam os senhores da Terra, do Céu, do Homem e da Natureza.
As massas requeriam esse politeísmo simbólico, nas grandes festividades exteriores da religião. Já os sacerdotes da época conheciam essa fraqueza das almas jovens, de todos os tempos, satisfazendo-as com as expressões esotéricas de suas lições sublimadas. Dessa idéia de homenagear as forças invisíveis que controlam os fenômenos naturais, classificando-as para o espírito das massas, na categoria dos deuses, é que nasceu a mitologia da Grécia, ao perfume das arvores e ao som das flautas dos pastores, em contato permanente com a natureza.
Fonte: Livro “A Caminho da Luz” pelo espírito Emmanuel
e psicografado por Francisco Candido Xavier

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